Forçar não é a melhor forma de fazer o seu filho comer melhor
É sempre um sacrifício fazer os filhos comerem verduras e legumes. Quando eles veem coisas verdinhas no prato já fazem cara feia, viram o rosto para o lado e recusam-se a abrir a boca.
Mesmo com paciência, explicando que aquilo é para "crescer e ficar forte" não adianta. E, então, você apela para as frases de efeito e pequenas ameaças.
Porém, saiba que o que você diz para os seus filhos durante as refeições pode influenciar, e muito, no modo como eles veem e se relacionam com a comida. Um estudo feito pelo departamento de Psicologia da PUCRS sobre o comportamento alimentar das crianças concluiu que 69% dos pais davam ordens para conduzir a alimentação, o que favorecia o comportamento de oposição por parte dos pequenos.
Quando os pais forçam ou impõem algum alimento, as crianças tendem a associar aquele momento com a sensação de estarem sendo pressionadas e a comida pode ficar marcada para sempre como uma experiência ruim e desagradável.
"Você só vai sair da mesa quando comer tudo o que está no prato", "coma as verduras ou vai ficar sem sobremesa" e "seu irmão (primo, colega, vizinho) está a comer tudinho, você deveria aprender com ele", são algumas das frases ditas pelos pais quando querem ver os filhos comerem todos os alimentos. E Rosane Calado, mãe de Fernando, de 10 anos, e André, de 20, conta: "Devo ser sincera, acredito já ter usado todas essas frases em algum momento na esperança de que eles comessem bem."
Tais falas podem trazer uma série de resultados inesperados. Os pais colocam no prato dos filhos o que acreditam ser o suficiente, mas será que essa quantidade é compatível com a fome da criança? Ao colocar comida demais e insistir para que a criança coma tudo, você pode prejudicar o controlo de fome e saciedade e levá-la ao sobrepeso, além de indicar com a imposição que aquilo que a criança esta sentindo ao negar a comida é irrelevante.
Thalita Batista, mãe de Maria Julia, de dois anos, e João Pedro, de oito, diz: "Eu respeito o estômago deles. Tal como nós adultos, eles também têm seus dias difíceis". Lembre-se que as necessidades calóricas das crianças são menores que as nossas, por isso confie quando seu filho disser que está satisfeito. Às vezes, um sumo antes do almoço pode alterar o apetite e levá-los a comer uma quantidade menor.
Já negociar na hora das refeições não é bom porque ver a comida como recompensa ou punição é danoso ao paladar. Quando a criança, por exemplo, precisa passar pelo fardo de comer alface para ganhar guloseimas, a alface sempre será vista como algo ruim. Apesar de ter efeito imediato, essa atitude deve ser substituída pela explicação do por que certos alimentos fazem bem e precisam ser consumidos.
E tenha paciência. Rosane diz: "Com o tempo eles tomam a iniciativa de experimentar outras coisas e, hoje, tenho certeza de que não adianta forçar. Uma hora eles acabam surpreendendo, comendo melhor e de tudo". Os pequenos precisam, sim, de uma força na hora da comida, mas todos têm o seu tempo.
"Para a aceitação mais rápida, procuro oferecer uma alimentação bem colorida, porque além de chamar a atenção, sei que nesse colorido estão incluídos mais nutrientes. Variar o cardápio na medida do possível também é muito bom", conta Rosane. Tente apresentar o mesmo alimento de diversas formas, crus, cozidos, como ingrediente em outros preparos. Quem sabe você não os convence?
Thalita explica como faz para a filha comer. "Eu descobri que cantando ela se anima muito para comer. Então nós cantamos uma música da escolha dela, ela puxa o trio elétrico e, por exemplo, em partes com a letra A, a gente abre a boca juntos para comer".
Esse método se assemelha muito ao famoso "aviãozinho" e tem consequências muito parecidas: a distração. Ao transformar a hora da refeição em brincadeira, a criança deixa de prestar atenção ao alimento, para se focar na brincadeira. Seus filhos precisam aprender que o momento da alimentação é importante e pode ser muito prazeroso por si só, desde que eles prestem atenção ao gosto, ao cheiro, à textura e ao formato dos alimentos do prato.
E esse problema também é encontrado na televisão. "Nós comíamos a ver tv antigamente porque morávamos em apartamento e a sala de jantar coincidia com a sala de estar. Mas na casa atual as refeições são feitas na mesa. Assistir televisão e comer prejudica na falta de contato entre nós, na falta de atenção à mastigação e em não se aproveitar a comida por prestar toda atenção à programação", relata Rosane.
"Moro em apartamento, então a mesa fica na sala, mas a televisão fica desligada até que comam tudo", diz Thalita. Quando se perde o foco da alimentação e não se presta atenção na comida, o resultado é desnutrição ou obesidade.
Sem controlo sobre a forma como estão a comer e o que o corpo lhes diz enquanto se alimentam, as crianças acabam ingerindo os alimentos automaticamente ou ignorando os sinais do organismo que indicariam a hora de comer e a hora de parar de comer.
A dica é simples. Reserve o momento do almoço e do jantar para que toda a família coma sentada à mesa. Além de fazer com que as crianças prestem atenção a tudo aquilo que está sendo ingerido, funciona como um momento de reunião da família, já que a rotina tão corrida vai nos afastando cada dia mais das atividades de nossos familiares.
E a mais importante dica de todas: dê o exemplo. Afinal, apenas o discurso não vai convencer seu filho a comer esses alimentos. Os pais são os espelhos para os filhos de como as pessoas devem ser, por isso, mostre às crianças como pode ser bom comer de tudo. Além de auxiliá-las a se alimentar bem, você vai adquirir hábitos mais saudáveis como consequência.
fonte: Juliany Bernardo
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