Sumos cítricos são ótimos aliados contra a formação dos dolorosos cálculos renais. Além disso, frutas e hortaliças compõem a ementa ideal para que os pedregulhos rolem sem causar tanto sofrimento
Peço licença, caro leitor, para dar aos rins um poder especial ao longo desta reportagem: o de criar mandamentos alimentares que devem ser seguidos religiosamente para garantir a eles uma vida sem arranhões nem dores. Para começar, uma ordem importantíssima: beba no mínimo 2 litros de líquidos por dia. É a lei número 1. E, para isso, não aposte apenas na água. Sucos como os de limão e de laranja cumprem a mesma função.
Para começo de conversa, os sumos são benéficos pelo simples fato de que são líquidos. "E assim impedem a formação de pedras, que surgem quando há um desequilíbrio na urina. Ou seja, quando há uma proporção maior de substâncias que podem se cristalizar — como o cálcio, o ácido úrico e o oxalato — e falta solvente para dissolvê-las", explica o urologista Antônio Lopes Neto, do Hospital do Coração (HCor), em São Paulo. O limão e a laranja são ricos em ácido cítrico. "E esse ácido dá origem a um sal chamado citrato, que impede a formação de cristais", diz a nefrologista Luciana Alves, do Complexo Hospitalar Edmundo Vasconcelos, também na capital paulista.
O mandamento seguinte vem com aval da Universidade Harvard, nos Estados Unidos: coma frutas, hortaliças e grãos em abundância. Os pesquisadores analisaram a dieta de 250 mil pessoas e notaram que investir nesses alimentos diminui a incidência das pedrinhas. "Os vegetais, em geral, aumentam o volume de citrato na urina, tornando-a menos ácida e, por isso, menos propícia à formação de cálculos. Já os grãos possuem fi tato, que cumpre a mesma função", afirma Eric Taylor, líder do trabalho. Entre as melhores opções estão o morango, o abacaxi, o feijão, o tomate e a alface.
O terceiro preceito para uma vida renal feliz também não é difícil de ser cumprido: prefira produtos lácteos desnatados. No caso, o benfeitor é o cálcio. "Pessoas com dieta rica nesse mineral têm menos chance de desenvolver pedras, diferentemente do que se pensava no passado", diz a nutricionista Ana Paula Gines, da Universidade de São Paulo. De acordo com a pesquisadora, o consumo de cálcio em doses adequadas evita a cristalização porque, no intestino, ele se une ao oxalato e é absorvido, impedindo a concentração exagerada de ambos — e especialmente do segundo — nos rins.
Como em toda boa lista de mandamentos, certas renúncias são exigidas. É aqui que deve ser colocado o quarto preceito: reduza o consumo de carne pela metade. "A recomendação é importante porque a ingestão excessiva de proteínas, principalmente as que vêm do bife, aumenta a produção de ácido úrico, um dos principais componentes das pedras", alerta Mauricio Braz Zanolli, professor de nefrologia da Faculdade de Medicina de Marília, no interior paulista. Sem contar que ele também torna a urina mais ácida, outro fator de risco na formação dos cálculos.
Elimine também pelo menos metade da quantidade de sódio ingerida — é a quinta regra. Afinal, doses exageradas desse mineral, presente no sal de cozinha e em alimentos industrializados, fazem com que os rins, ao eliminá-lo, excretem junto cálcio, ácido úrico, fosfato e oxalato. Isso aumenta a concentração dos compostos na urina, tornando-a mais ácida e, como já sabemos, propiciando a formação dos minúsculos rochedos. "O churrasco, portanto, é proibido para quem luta contra pedras nos rins ou precisa evitar seu reaparecimento, já que se trata da junção dos dois piores ingredientes para o aparecimento de cristais", ressalta Lopes Neto, do HCor.
Por fim, um sexto mandamento: não coma doces com frequência. "A explicação é que o açúcar acidifica o pH sanguíneo, fazendo com que mais cálcio saia dos ossos com o objetivo de neutralizar essa acidez", descreve a nutricionista funcional Andreia Torres, de Águas Claras, no Distrito Federal. "Depois de ter saído dos ossos, o mineral será eliminado e, durante sua passagem pelos rins, pode se juntar a outros compostos. Assim, aumenta o risco de formações rochosas." Claro que não é necessário cortar radicalmente as sobremesas da dieta, mas é preciso evitar os excessos. Cumprindo as regras, seus rins estarão mais a salvo de qualquer pedra.
Quando a dor aparece
Os cálculos renais são formados por cristalização de compostos — principalmente cálcio, oxalato e ácido úrico — que, quando migram para as vias urinárias, causam dor intensa. Os menores, do tamanho de um grão de areia, são expulsos sem maiores traumas. Mas alguns atingem centímetros de diâmetro e, daí, é difícil mandá-los embora tranquilamente. Desconfie de que há uma pedra no meio do caminho caso, de uma hora para outra, sinta um forte desconforto na região próxima aos rins acompanhada de náuseas e vômitos. O tratamento começa com remédios para o indivíduo suportar a agonia e ingestão de muito líquido. Mesmo assim, em algumas situações, é preciso se submeter a um procedimento para a eliminação dos cálculos.
Alimentação durante a crise
"Para a expulsão dos cristais, é necessário aumentar ainda mais a ingestão de líquidos para limpar as vias urinárias", orienta Joana Lemos, nutricionista do grupo de pesquisas em nefrologia do Hospital de Clínicas de Porto Alegre, no Rio Grande do Sul. As restrições alimentares, nesses episódios, são bem maiores: corte de vez o sal e os produtos salgados, reduza a quantidade de proteína animal radicalmente e restrinja o uso de suplementos de cálcio. Caso as pedras sejam formadas por oxalato — o que só é possível saber após análise —, evite alimentos ricos no próprio composto, como nozes, espinafre, chocolate e chá verde.
Chá de quebra-pedra funciona?
Ele não racha pedregulhos ao meio, claro, mas impede a agregação dos cristais, segundo pesquisa da Universidade Federal de São Paulo. Assim, evita a formação de cálculos grandes, os mais dolorosos. Para fazer a infusão, ferva 2 colheres de sopa da erva quebra-pedra (Phyllanthus niruri) em 1 litro de água. Deixe descansar por dez minutos, coe e beba até três chávenas por dia.
fonte: por LÚCIA NASCIMENTO fotos DERCÍLIO
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