Há mais ameaças por trás de um ronco do que você sonha. Elencamos os males ligados a ele e as maneiras de silenciá-lo
Os autores desta reportagem escrevem com certo conhecimento de causa: sim, nós roncamos. E interessa, portanto, esmiuçar — e compartilhar — descobertas recentes sobre a ligação da barulheira noturna com uma série de problemas. Afinal, o ronco muitas vezes é o sintoma audível de um distúrbio cada vez mais estudado: a apneia do sono. Além da barulheira, ela é marcada por interrupções temporárias na respiração durante a madrugada. Mas eis uma dúvida: afinal, todo mundo que ronca tem apneia? Não, mas com a idade, somada ao sedentarismo e ao ganho de peso, há uma alta probabilidade de a orquestra ser acompanhada pelos engasgos provocados pelo corte no fluxo de oxigênio. E o perigo é que anos de poluição sonora, longe de abalar apenas a saúde de um casamento, podem despertar diversas confusões no organismo. Hora de conhecê-las e entender por que é preciso parar de roncar.
10 bons motivos para deixar de roncar
1. Tumores agressivos Quando os roncos são acompanhados de pequenas paradas no fornecimento de oxigênio, o organismo se torna sede de uma grande confusão. Nesse cenário, um cancro pode aproveitar para crescer e se espalhar mais facilmente. É o que acabam de revelar pesquisadores da universidade de Barcelona, em Espanha. eles comprovaram, em ratos, que a apneia do sono acelera a expansão do tumor. "As quedas recorrentes nos níveis de oxigênio contribuem para a formação de vasos que alimentam o câncer, o que favorece seu desenvolvimento e o torna mais agressivo", explica Isaac Almendros, especialista em medicina do sono e responsável pela experiência.
2. Alzheimer A doença que compromete a memória e outras funções cognitivas teria na apneia do sono mais um cúmplice, aponta uma investigação da universidade da Califórnia, nos Estados Unidos, com americanas acima de 65 anos. Ao que tudo indica, a privação de oxigênio imposta ao cérebro diminui o aporte de combustível aos neurônios, que ficariam mais frágeis e suscetíveis aos danos desse mal degenerativo.
3. Lapsos de memória Não é raro que o roncador acorde com uma doce ilusão: ele pensa que dormiu bem. Mas a apneia do sono não repercute apenas sobre a qualidade do descanso do companheiro de cama. No dia a dia, quem faz o barulho vai sentir na pele os efeitos de uma noite nada reparadora. É que a apneia propicia despertares tão breves que não são registrados pela consciência. E isso impede que o indivíduo alcance as fases mais profundas do sono, onde se consolidam as memórias. Essa interrupção do repouso confunde o sistema nervoso e impede que a pessoa descanse de verdade. Daí, ao longo do dia, o apneico esquece por que abriu o frigorífico, onde guardou a chave, qual o telemóvel do cônjuge...
4. Hipertensão A orquestra noturna — que tem público seleto — coloca o corpo do seu maestro em estado de tensão. E, com o tempo, a sonata pode ser saudada por um mal silencioso: a pressão alta. Duas hipóteses buscam elucidar o elo entre os roncos e a hipertensão. Eis a primeira: "A apneia ativa o sistema nervoso simpático, que ordena a liberação de adrenalina. Essa descarga promove um estreitamento dos vasos", diz o pneumologista Geraldo Lorenzi Filho, do incor. a segunda suspeita recai sobre os cortes no fluxo de oxigênio, que induziriam inflamação no sistema circulatório, dificultando a passagem do sangue. uma pesquisa do incor revela que o tratamento da apneia com o CPaP, aparelho que regulariza a respiração à noite, poderia ajudar pré-hipertensos a não desenvolver a doença propriamente dita. Em outro estudo, lorenzi e equipe provaram que o CPaP aumenta as chances de controle da pressão alta que resiste a baixar com remédios
5. Arritmia Lembra aquela história de que a apneia do sono aciona o sistema nervoso simpático e deixa o corpo sob stress permanente? Pois bem, além de patrocinar a hipertensão, esse descompasso costuma acelerar a frequência cardíaca. Mais: no tentar de recuperar o oxigênio perdido — aquele típico engasgo —, uma maior quantidade de sangue pode ser escoada até o coração. Se ocorre repetidas vezes, esse fenômeno altera sua anatomia e desgoverna ainda mais os batimentos. em algumas pessoas predispostas, a quebra nessa cadência se perpetua, gerando uma arritmia, condição nada bem-vinda que, além de piripaques potencialmente fatais, favorece derrames.
6. Baixos níveis de testosterona Um alerta aos homens: quem ronca para valer e sofre, sem se dar conta, alguns engasgos durante o sono corre maior risco de encarar a impotência sexual. um estudo da Faculdade de Medicina de São José do rio Preto, no interior paulista, revela uma íntima associação entre a apneia do sono e baixos níveis de testosterona, a hormôna masculina. "avaliamos homens com sobrepeso e uma obesidade mais branda para não haver interferência dos quilos a mais nos resultados", conta a professora de anatomia Vânia Piatto, uma das autoras. "Nos dois grupos, notamos níveis da hormôna mais baixos entre os apneicos", completa. uma das razões para essa queda está nos cortes no fluxo respiratório, capazes de interferir em um mecanismo cerebral que comanda a conversão da testosterona em sua versão atuante. "assim, caem as taxas da molécula no sangue e ela não funciona tão bem", resume Vânia.
7. Enfarte e AVC Quem não se cuida tem um destino perigoso: à medida que os anos correm, engorda e passa a roncar. Com o peso, vem a apneia e, junto com ela, pressão alta e diabete. Não é por menos que especialistas defendem a inclusão desse distúrbio na coleção de desordens conhecida como síndrome metabólica — que ainda engloba colesterol alto, abdômen avantajado... digamos que os roncos e o sono entrecortado compõem mais um ingrediente na receita que culmina em entupimentos de artéria, a base de um infarto ou um acidente vascular cerebral. o problema estorva o controle da pressão e do açúcar no sangue, além de convidar o indivíduo a persistir no sofá. eis o cenário ideal para um ataque cardíaco ou um derrame. embora a ala masculina seja o alvo preferencial da apneia, as mulheres não podem baixar a guarda, uma vez que tendem a ganhar barriga e perder sua proteção cardiovascular natural após a menopausa.
8. Hipotireoidismo De olho na ligação entre a apneia e as hormônas, pesquisadores da Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto também analisaram a prevalência de hipotireoidismo em mulheres com sintomas típicos desse distúrbio do sono. Eles constataram, então, que os níveis da hormôna produzido pela tireoide eram mais baixos entre aquelas que se queixavam de sonolência diurna, por exemplo. "No entanto, quando as voluntárias faziam a reposição hormonal, emagreciam, deixavam de ter apneia e se sentiam mais dispostas", conta Vânia Piatto. Ou seja, os roncos e o marasmo durante o dia, unidos ao aumento da circunferência da cintura, podem esconder uma disfunção da tireoide.
9. Diabete A cacofonia na calada da noite é famosa por dificultar o controle do açúcar no sangue. É que o fluxo respiratório defeituoso eleva a concentração de glicose, tornando-se mais uma pedra no caminho de quem tem diabete ou está prestes a desenvolvê-lo. Em busca de uma resposta para esse elo, o médico do sono Denis Martinez, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, verificou em ratos que a respiração irregular típica da apneia catapulta a concentração de radicais livres circulantes. "Essas moléculas podem lesar células do pâncreas, prejudicando a produção da insulina, hormôna que permite à glicose entrar na célula", explica Martinez. Apesar de a obesidade estar de braços dados com o diabete e a apneia, pessoas esguias também precisam ficar atentas. "Nossa experiência foi realizado com ratos magros", reforça Martinez. De qualquer forma, quanto mais gordura houver no pedaço, maior o risco de o açúcar decolar.
10. Acidentes "A apneia é uma das principais causas de sonolência excessiva durante o dia, uma vez que o sono fica fragmentado", afirma Dalva Poyares. Em poucas palavras, o indivíduo não descansa a contento e pode dar aqueles cochilos involuntários em situações que demandam muita atenção. Vai um exemplo: no meio do trânsito. Quando a apneia não está controlada, o sujeito fica mais vulnerável a se envolver em acidentes. O mesmo pode ocorrer dentro do ambiente de trabalho, quando um funcionário dorme operando uma máquina ou, então, passa vergonha no meio da reunião. Leseira além da conta exige uma visita ao médico. Além de constantemente exausto, o apneico fica mais distraído e irritado.
fonte: Adaptado do original de Chloé Pinheiro e Diogo Sponchiato
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